Sunday, May 17, 2015

Crônicas da Alma I: O último inimigo a ser vencido é a morte

O título desta postagem foi citado várias vezes por J. K. Rowling no último livro da série Harry Potter. Parece pueril, mas a passagem vai além de sua relevância dentro de contos juvenis: a frase é atribuída ao Apóstolo Paulo, registrada na carta aos Colossenses, capítulo 15:26. E é essa frase que me incomoda hoje, quando faço meus 26 anos de idade.

Não me incomoda muito que eu ganhe mais um ano, nem que mudanças microscópicas comecem a ocorrer no meu metabolismo. Nem me perturba que há alguns dias eu tenha encontrado meu primeiro cabelo branco. Me incomoda o que passou e o que sei que não vai voltar. Me incomoda quando me lembro do meu primeiro dia de faculdade. Das primeiras amizades da adolescência, hoje tão distantes pelas ocorrências da vida. Me incomoda que meu avô já se foi. Me incomoda que minhas duas avós descansaram. Me incomoda também que três tios já faleceram. Me incomoda que meu pai faz 60 anos esse ano, e que minha mãe já está prestes a se aposentar. Enfim, me incomoda mesmo é que o tempo também traz uma mensagem subliminar, discreta, mas perenemente audível sobre a mortalidade das nossas vidas.

O tempo é um mensageiro mórbido. Pois ali, entre felicitações e abraços, bolos e bolas de soprar, as minhas velinhas estão acesas, esperando serem sopradas para que a chama se apague. Ali o tempo está deixando o seu recado, suave e provocante: "tic tac, tic tac". Ele me lembra dos erros e dos acertos, do que falta conquistar, do que precisa corrigir, de tudo o que já se tem, e infelizmente, de tudo o que um dia se vai perder.


Acredito que pelo peso dessa mensagem, a humanidade tenha sido perspicaz ao tentar lidar com esse mensageiro amargante. Como dizia São Paulo, procuramos nossos rumos para vencer o maior inimigo. Seja por químicas, por remédios, por administrações cirúrgicas, ou pela crença individual. 

Mas e se a morte não for vencível? Alguns me perguntarão. Sinceramente, prefiro não ter uma resposta a esta pergunta. Prefiro que hoje, entre tantas coisas felizes que me aquecem o coração, e tantas palavras carinhosas de amigos tão queridos, eu possa silenciar meus pensamentos e ouvir. Apenas ouvir: "tic tac". Ouvir e refletir. E aprender a valorizar o que realmente vale a pena, e principalmente: quem realmente vale a pena.

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